Publicado originalmente por Carolina Klóss no Donna
Com uma rotina cada vez mais turbulenta e acostumados a obter informações em 140 caracteres ou dividindo a atenção com dezenas de abas do navegador de internet, muitos deixaram de lado um hábito aparentemente banal: ler com calma e prazer.
Isso indica que, embora por conta da internet tenhamos nos tornado receptores constantes de informação, também estamos esquecendo de processar e absorver conteúdos sem pressa. Ao analisar esse fenômeno, especialistas acreditam que uma revolução literária está chegando. Ou, pelo menos, uma prática está sendo retomada. Primeiro, surgiu o slow food (comer devagar). Agora, muitos estão seguindo o movimento slow reading (leitura lenta).
Pesquisado pelo especialista em tecnologia da informação John Miedema, o assunto chegou às livrarias brasileiras sob o título Slow Reading – Os Benefícios e o Prazer da Leitura sem Pressa (editora Octavo, 128 páginas, R$ 37 em média). De acordo com Miedema, há um número crescente de pessoas frustradas com a sobrecarga de informações, sejam elas impressas ou digitais. Por isso, estariam adotando uma leitura sem pressa. O movimento, como descreve o autor, propõe um resgate do prazer de ler, dando uma chance exclusiva, nem que seja uma vez ao dia, a um bom título.
— Se você quer uma experiência profunda com um livro, se quer internalizar isso, para misturar as ideias dos autores com as suas próprias e fazer disso uma experiência pessoal, você deve ler devagar — relata.
Em Slow Reading, Miedema assume ser um leitor lento.
— A leitura demorada de um livro leva a uma relação mais profunda com as suas histórias e ideias. Quando leio um livro lentamente, ele continua me influenciando mesmo depois de passados anos — defende o autor, no preâmbulo da obra.
A doutora em Letras e especialista em Literatura Brasileira, Flávia Brocchetto Ramos, acredita que todos têm o direito a ler devagar, a saborear e a degustar um bom livro. Para ela, até mesmo histórias em quadrinhos não são narrativas para ler apressadamente, já que temos de pensar nas relações estabelecidas entre palavra e ilustração, por exemplo.
— Comparando com a alimentação, ao receber um bife com arroz e salada, podemos nos alimentar de pé, com o prato na mão, e nem sentir o gosto da comida. Mas também podemos apreciar a disposição dos alimentos no prato, as suas tonalidades, os aromas e sentir a textura de cada um dos alimentos — explica Flávia.
Cinco passos para praticar o slow reading
► Leia o livro inteiro: capa, prefácio, notas de rodapé e apêndices.
►Saboreie as ilustrações e não ouse saltar a poesia
► Subvocalize as palavras ou leia-as em voz alta.
► Volte atrás e releia trechos.
►Discuta com o livro: o que ele apresenta se comparado à sua experiência?